Como quase tudo nessa vida, a análise não pode ser rasa e feita olhando apenas para os números. Sim, é verdade que há muitos méritos no trabalho feito nos últimos anos, em especial com um crescimento grande na organização dentro do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – cabe ressaltar, por exemplo, a Missão Europa que levou mais de 200 atletas para treinar em solo europeu enquanto a pandemia ainda castigava o Brasil e mantinha os centros de treinamentos fechados.
Mas os recordes todos também não podem jamais esconder os problemas do país no esporte.
Para começo de conversa, uma medalha olímpica é uma construção de muitos anos. É necessário um investimento na evolução do atleta até que ele chegue ao ponto máximo de um pódio.
Foi assim, por exemplo, com Isaquias Queiroz. Ele foi levado a Londres, em 2012, no projeto Vivência Olímpica, apenas para conhecer o 'clima' dos Jogos. Enquanto isso, o COB e a Confederação Brasileira de Canoagem fizeram um trabalho exemplar de revolução do esporte, incluindo a contratação do lendário técnico espanhol Jesús Morlan.
Ou seja: o ouro de Isaquias em Tóquio começou a ser construído há quase uma década.
Isso quer dizer que o corte nos investimentos em esporte pode simplesmente ainda não ter tido tempo de fazer efeito – um levantamento do site GloboEsporte mostra que o investimento de dinheiro público caiu de R$ 3,8 bilhões para R$ 2 bilhões entre o ciclo da Rio-2016 e o da Tóquio-2020.
E há vários sinais de alerta acesos nessa Olimpíada. O handebol, por exemplo, já dá sinais de que não conseguiu aproveitar a geração feminina campeã do mundo em 2013. Pouco tempo depois, nenhuma das duas seleções conseguiu passar da fase de grupos – enquanto a confederação do esporte no país se afundou em crises nos últimos anos.
O vôlei de praia deixa as terras japonesas sem medalhas para o Brasil pela primeira vez na história. Duas duplas caíram ainda nas oitavas de final e outras duas não passaram das quartas. Alison Mamute, ouro em Tóquio, foi um dos primeiros a fazer o alerta logo após ser eliminado em Tóquio: “O mundo está investindo no vôlei de praia, e a gente está ficando parado.”
Mesmo esportes que trouxeram medalhas têm seus sinais acesos. Natação e atletismo viram o surgimento de dois jovens que devem brigar por pódios por um bom tempo (Fernando Scheffer e Alison dos Santos), mas tiveram uma redução em número de finais e até de semis. O judô também teve um ótimo desempenho de um 'novato' (Daniel Carginin), mas viu parte de uma geração vitoriosa chegar ao fim, sem tanta certeza assim sobre um futuro.
Olimpíadas: Brasil virou potência nas Olimpíadas? País acumula recordes, mas medalhas não podem esconder problemas
De Ítalo Ferreira ao futebol masculino: os ouros do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio
O Brasil acumulou recordes em Tóquio: maior número de pódios, maior número de medalhas e um 12º lugar no quadro de medalhas, a melhor posição de todos os tempos. Mas, afinal, viramos uma potência nas Olimpíadas?
A verdade não é bem essa!
Como quase tudo nessa vida, a análise não pode ser rasa e feita olhando apenas para os números. Sim, é verdade que há muitos méritos no trabalho feito nos últimos anos, em especial com um crescimento grande na organização dentro do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – cabe ressaltar, por exemplo, a Missão Europa que levou mais de 200 atletas para treinar em solo europeu enquanto a pandemia ainda castigava o Brasil e mantinha os centros de treinamentos fechados.
Mas os recordes todos também não podem jamais esconder os problemas do país no esporte.
Para começo de conversa, uma medalha olímpica é uma construção de muitos anos. É necessário um investimento na evolução do atleta até que ele chegue ao ponto máximo de um pódio.
Foi assim, por exemplo, com Isaquias Queiroz. Ele foi levado a Londres, em 2012, no projeto Vivência Olímpica, apenas para conhecer o 'clima' dos Jogos. Enquanto isso, o COB e a Confederação Brasileira de Canoagem fizeram um trabalho exemplar de revolução do esporte, incluindo a contratação do lendário técnico espanhol Jesús Morlan.
Isaquias Queiros (canoagem), ao lado de Alessandra Marchioro (natação), Felipe Wu (tiro), Flávia Gomes (judô) e Hugo Calderano (tênis de mesa) no projeto Vivência Olímpica em 2012 Divulgação
Ou seja: o ouro de Isaquias em Tóquio começou a ser construído há quase uma década.
Isso quer dizer que o corte nos investimentos em esporte pode simplesmente ainda não ter tido tempo de fazer efeito – um levantamento do site GloboEsporte mostra que o investimento de dinheiro público caiu de R$ 3,8 bilhões para R$ 2 bilhões entre o ciclo da Rio-2016 e o da Tóquio-2020.
E há vários sinais de alerta acesos nessa Olimpíada. O handebol, por exemplo, já dá sinais de que não conseguiu aproveitar a geração feminina campeã do mundo em 2013. Pouco tempo depois, nenhuma das duas seleções conseguiu passar da fase de grupos – enquanto a confederação do esporte no país se afundou em crises nos últimos anos.
O vôlei de praia deixa as terras japonesas sem medalhas para o Brasil pela primeira vez na história. Duas duplas caíram ainda nas oitavas de final e outras duas não passaram das quartas. Alison Mamute, ouro em Tóquio, foi um dos primeiros a fazer o alerta logo após ser eliminado em Tóquio: “O mundo está investindo no vôlei de praia, e a gente está ficando parado.”
Mesmo esportes que trouxeram medalhas têm seus sinais acesos. Natação e atletismo viram o surgimento de dois jovens que devem brigar por pódios por um bom tempo (Fernando Scheffer e Alison dos Santos), mas tiveram uma redução em número de finais e até de semis. O judô também teve um ótimo desempenho de um 'novato' (Daniel Carginin), mas viu parte de uma geração vitoriosa chegar ao fim, sem tanta certeza assim sobre um futuro.
Olimpíadas: Com recorde histórico, veja todas as medalhas do Brasil em Tóquio-2020Brasil chegou a 21 medalhas, melhor marca do país em todos os tempos
Teve até medalhista sem clube. Thiago Braz, ouro no Rio e bronze em Tóquio, teve seu contrato rescindido com o Pinheiros no ano passado e até agora não encontrou uma nova casa.
“É uma situação complicada. Não acredito que um atleta possa chegar sem apoio a algum lugar. Estamos passando por uma fase delicada. Ao mesmo tempo em que o esporte está crescendo, tem partes em que está sendo prejudicado. Não consigo definir qual é o motivo central que está atrapalhando, mas o que tenho a fazer é um convite às pessoas, para que olhem para o esporte de um jeito diferente”, disse.
Ainda vale lembrar que o recorde em Tóquio acabou sendo conquistado com a 'ajuda' das novas modalidades olímpicas. Skate (3 pratas) e surfe (1 ouro) foram o diferencial para essa melhor campanha histórica – curiosamente (ou não) são dois esportes que sempre foram quase independentes na relação com suas confederações.
A única verdade quase que absoluta dessas Olimpíadas é que elas mostraram que o Brasil tem potencial para se tornar um dos 10 melhores países do mundo em esportes.
O vasto material humano do país 'só' precisa de muito mais carinho e atenção do que costuma receber, com investimento no esporte e uma organização para que toda habilidade brasileira possa desabrochar.